Conheçam a sinopse dos cordéis de Valéria Rocha e espiem a astúcia de algumas estrofes.
A belezura do Sertão (2007 ) 8 páginas
É o filho primogênito, primeiro cordel da autora mostrando
que há muita beleza nas coisas simples e secas do sertão; valorizando o
sertanejo que é, genuinamente, forte. Forte por legado! Apreciem a 1ª, 5ª e 24ª
estrofes:
Aprecio
o meu Sertão
Ele é
uma coisa bela
É
desgraça abençoada
Há quem
esconjure ela
Por
seus filho definhado
Mas são
forte por legado
Por
batismo sem capela.
...
Pois,
beleza não se ver
Só no
que tá se mexeno
Só no
que tá fulorano
Só no
que segue correno
Tem a
beleza morrida
Que
partiu sem despedida
E de
bela, tá viveno.
...
E por
aqui vou ficando
Nesse
pedaço de chão
Aqui
pranto a minha vida
Nas
veredas do Sertão
Tudo
nele eu valorizo
E
repasso esse juízo
Para as
outra geração.
Eu vi o Rancho
do Garimpeiro (2008.) 8 páginas
Relata uma visita feita à Oficina do garimpeiro,
uma espécie de museu vivo na cidade de Lençóis-BA na Chapada Diamantina,
apresentado por Seu Cori, garimpeiro antigo (e pai da autora); contando sobre a
garimpagem, processo de pegar o diamante, o que provocou o surgimento dessa
cidade. Confira a 5ª , 6ª e 20ª estrofes:
...
Se
tratava de um lugar
Bem simples, especial
Com muitas curiosidade
Que conta a história local.
É o RANCHO DO GARIMPEIRO
Bem no meio do terreiro
Num pedaço de quintal.
...
Lá mostra a cultura viva
É uma espécie de museu.
Possui bela arquitetura
Foi Seo Cori quem ergueu
Alicerçou com firmeza
Trançou as vara bem presa
Depois de barro encheu.
...
E fiquei admirado
Fixamente olhano
Aquela mágica pedra
Que atrai tanto o ser humano
Que deu pão ao garimpeiro
Que pra Lençóis de primeiro
Foi
sustento ano a ano.
Estica,
xinga e puxa - reclamação do mei-de-feira (2008.) 8 páginas
É um cordel bem humorado que trata de toda movimentação
observável numa feira.
Criativamente dando vida às frutas, verduras,
legumes entre outros produtos comestíveis, a autora nos leva a refletir sobre
os comportamentos, atitudes dos frequentadores das feiras, os fregueses;
através da reclamação dessa classe inanimada. Veja a 1ª, 10ª e 13ª estrofes.
No meio do
mei-de-feira
Tem zum-zum-zum
sacudido
Tem risada de
comadre
Tem esporro de
marido
Tem prosa de
vendedor
Com freguês bom
pagador
Tem grito no pé
d’ouvido.
...
Mas insatisfeitas mesmo
Era as jaca e melancia
Pois levavam peteleco
Cada minuto do dia
Rolavam elas no chão
Apertavam com o dedão.
Sentiam muita agonia!
...
As romã falou
vermelha
Sem nenhuma compostura
Que gente
enfiava o dedo
Bem na sua
rachadura
Teve apoio do
quiabo
Que virava o
diabo
Se quebrassem a
ponta dura.
O dia em que Maria pariu barriga de
dois-Mabaço (2008) 16 páginas
Esse é
considerado um romance de cordel pela sua estrutura de 48 estrofes. Traz uma
história emocionante ao mesmo tempo divertida, de Maria, uma adolescente que
vivia com o pai e aprontava às escondidas com as colegas, até que engravidou
indesejadamente sofrendo muito com isso. Apesar de tudo, vence as dificuldades
e tudo termina bem. Seguem a 2ª, 8ª, 33ª, 44ª, 45ª e 46ª estrofes.
...
Foi pras banda do Sertão
Onde uma fía padiceu
Viu o fé depois do mé
Pois um bocado sofreu
Pegou uma barrigada
Bem daquelas dupricada
De onde mabaço nasceu.
...
Arribava pelo mundo
Só vortava crareano
Não perdia uma folia
E ao véi ia inganano
Igual macaco matreiro.
Era assim o tempo inteiro
De janeiro ao fim do ano.
...
- Maria, tu tem é dois!
Gritou ligeiro a parteira.
Ela respondeu morreno:
- Tu deixa de brincadeira!
E antes dela pensar
O segundo saltou lá
Acabando a canseira!
...
Pois
nasceu foi dois muleque
Para
surpresa do avô
Que
chegou descabriado
Quando
a poeira abaixou
Olhou
bem para Maria
E
sentiu uma agonia
Mas
nada pronunciou
...
Virou um avô curuja
Acabou-se a desavença.
Lindos! Os fí de Maria
E bonzinhos, uma bença!
Ria, fazia gracejo
Inventava
soltar beijo,
Alegria
era imensa!
...
Eu vou parar de contar
Todas graça e encanto
Que aquelas duas criança
Tem de monte, tem aos tanto
Pois você que tá escutano
Que tá leno ou espiano
Pode até botar quebranto.
A
banguela do dente de leite (2010) 8 páginas
Esse foi o
primeiro CORDEL INFANTIL da autora, tratando com muito carinho da fase
da troca de dente das crianças. Nele uma menininha conta os conselhos e
orientações que recebeu para resolver o problema de seu dente mole. Experiências
assustadoras, tentadoras, curiosas para arrancar o dente de leite.
Com essa
leitura a vergonha das crianças pela banguela passa a ser orgulho, motivo de
curtição. Observem as estrofes 10ª,11ª e 14ª.
...
Então começa uma luta
Ou melhor, um ritual
Pra arrancar o danadinho
De uma forma natural
Mãe, mandou eu morder pão
Que nessa mastigação
O sucesso era total.
Minha tia me ensinou
Outro jeito de tirar
Só pegar uma maçã
E os dentes enfiar.
Só assim ia sair
Sem medo de eu engolir
Pois na fruta ia ficar.
...
Meu irmão muito atentado
Veio e amarrou cordão
Já prendendo a outra ponta
Bem no trinco do portão
Pra fechar batendo forte:
Eu pro Sul, dente pro Norte.
Meu pai viu, gritou que não!
A
história de amor de um cabra sério com uma moça formosa (2011) 8 páginas
Esse cordel versa
sobre um fato especial da vida da autora, sua história de amor com o também
cordelista Ernesto Jazade!
De autoria do
casal esse cordel conta sobre o encontro, o namoro e a festa de casamento em si.
Ele foi a lembrança dos noivos para seus convidados no dia de sua união. Contemplem
as 22ª, 23ª e 24ª estrofes.
...
Vale a pena repetir
A beleza desse amor
Levou tempo só crescendo
E ainda está em flor
Rezo que nunca se acabe
Inclusive, não desabe.
Aumentando seu valor.
E também quero lembrar
Remoer minha conversa
Não brigar só por besteira,
Evitar que se aborreça
Sendo agora um casal
Tenham uma vida triunfal
Ou então, não interessa.
Cordelirando essa história
Arrumando toda em rima
Seu moço, que boniteza
Admiro e me anima!
Diga se não dá saudade
Ou então uma vontade
Se casar com quem se estima?
Lembranças
do Natal (2012) 16 páginas
Este também é considerado um romance
de cordel. Nas suas 48 estrofes estão relatadas situações, acontecimentos
recorrentes no período natalino: os presépios também chamados de lapinhas, os
presentes, os tocadores de reis, os sentimentos... nos remetendo à infância. A
autora ainda homenageia a sua mãe, D. Maria, que é fazedora de lapinha desde
menina. Leiam as estrofes 25ª, 28ª, 32ª, 35ª, 38ª, 47ª.
...
A dona dessa Lapinha
É Maria de Cori
Que desde seus sete ano
Faz a sua reluzir
Monta uns morro e pincela
Ou imita uma capela
Com palha de licuri.
...
Fica num canto da sala
Abrigando Deus Menino
E tem vários personage
Visitano o pequenino.
Põe até uns objeto
Pelo alto, lá no teto:
Avião, gaiola e sino
...
Muitos outros brinquedinho
Deixa assim uma belezura
A Lapinha de Maria
Que é cheia de candura
Em todos seus personage
Nos raminho, nas folhage,
Nos cheiro que se mistura.
....
E muitas criança ainda
Teima para não dormir
Quer ficar mirano o céu
Pra ver estrela cair,
Avistar Papel Noel
Com suas rena fiel
Na imensidão a sumir
...
Quando vai a noite alta...
As tanta da madrugada
Surge uma cantoria
Oh, zuada sussegada!
É a Folia de Reis
Que até o dia seis
De janeiro, faz tocadas.
...
Quero que o ano passe
Bem ligeiro, nas carrera
Pra chegar logo o Natal
Numa noite altaneira
Pra viver a emoção
Dessas todas confissão
Que contei, desde a premera.
O
cachorro de seu Zé(2012)8
páginas
Este folheto é baseado em fatos reais, acontecidos
na cidade de Ipirá. Relata a história de um cachorro que foi viciado por alguns
usuários de maconha que se reuniam em pontos estratégicos da cidade para fumar.
O cachorro de Seu Zé, reconhecia e acompanhava essas pessoas nesse ato meio
camuflado, compartilhando da droga e dos efeitos dela.
Já imaginaram o que faz um cachorro “doidão”? Conheçam
as estrofes 3ª, 9ª e 11ª dessa história.
...
Como todo mundo sabe
Da fama de um cachorro
De fiel e companheiro
Fazer guarda e dar socorro
Que só segue ao seu dono
Sem largar no abandono
Indo até em alto morro!
...
Tudo isso é natural
E normal pra essa raça
Que tem faro apurado
Pra ladrão e é bom de caça
Mas, Seo Zé tinha um cachorro
Que se minto, eu caio e morro
Que gostava de fumaça!
...
Não saia dos munturo
Nem das descarga furada
O diabo do cachorro
Gostava de uma danada
Da tinhosa, a folhinha.
Ela mesmo, a ervinha
Não é conversa fiada!
A
pixiringa xixilada (2012)8
páginas.
É um cordel voltado ao PÚBLICO INFANTIL, onde a personagem
da pixiringa reclama uma música para si; para tanto, relembra várias músicas do
cancioneiro popular que falam de bichos outros para justificar que não existe
uma música sobre ela. Assim, instiga e desafia as crianças criarem uma música
que fale da pixiringa.Divirta-se com as estrofes 4ª, 9ª e 21ª
(...)
Adivinha quem eu sou?
Eu sou uma Pixiringa
Quando ando na pessoa
Sei que ela se coça e xinga
Procura um bom bocado
Dá tapa por todo lado.
Se irrita, choraminga
(...)
Todo mundo tem uma música
Toda fofa, engraçadinha
A formiga, a cigarra
O elefante e a galinha
Até pulga entocada
Se vê homenageada.
Dizem que toca flautinha.
Eu queria uma música
Que falasse só de mim
Com refrão bem animado
Repetindo sem ter fim
Pra cantar com emoção
Pra tirar o pé do chão
Rimando pirlimpimpim.
Rodin
(2012)8 páginas
É um cordel com perfil informativo, sem perder a
subjetividade. Nele apresenta o escultor Auguste Rodin e suas obras. As
estrofes acompanhadas de imagem das obras do artista, falam delas com
curiosidade e graça deixando, porém, espaço para as impressões do leitor.
Apreciem as estrofes 3ª, 10ª e 11ª
O PALACETE DAS ARTE
Que fica na capitá
Abrigou todas as
peça
De um homi
espetacular
Chamado AUGUSTE RODIN
Que dele agora sou
fã!
Você também vai
gostar!
Esse cabra é muito
grande
Bem forte, é sim
senhor
Se tá triste ou se
tá bravo
Isso eu não sei,
não senhor
Bem zangado ou
chorano
Sei que tá é
matutano
Pois ele é “O PENSADOR”.
Tá nos livro das
escola
Nas pose dos
gozador
Nos quadrão de Seo
Maurício
Nos estudo dos
Dotor
Trata duma
escultura
Que tem muita
releitura
A que mais se destacou!
Você
sabe o que eu não sei?(2012)8
páginas
Com um título instigante, esse é mais um CORDEL INFANTIL da autora. Ele aborda sobre a curiosidade infantil, onde um menino
passando pela fase de querer saber sobre todas as coisas que há no mundo, é um
grande perguntador querendo encontrar resposta para tudo. Confiram as estrofes
1ª, 2ª e 15ª.
(...)
Vou agora
lhe contar
Muitas
coisas que eu não sei
Sei que
não sei quase nada
Disso
nunca duvidei.
Eu não sou
um sabichão
Mas não
sou nenhum bobão
Isso
sempre afirmei.
Eu não sei
de muita coisa
Então saio
a perguntar
Pois, sou
muito curioso
E quero
poder achar
Uma
resposta pra tudo
Pois o
mundo não é mudo
Já parei
pra observar.
(...)
Porque é
que gente grande
Tem
vergonha de brincar?
E a gente
que é criança
Corre e brinca
sem parar?
Como é dor
de facão?
O que é um
alcorão?
E um
eclipse lunar?
Um
viva à Jorge Amado(2012)8 páginas
Esse cordel é uma homenagem ao centenário de Jorge
Amado, trazendo informações e curiosidades sobre a vida e obra do escritor.
Descubra nos versos instigantes algo mais sobre um dos mais admiráveis baianos.
Confiram as estrofes,3ª, 4ª e 24ª
(...)
Forte como todo Jorge
Também tinha sua espada
Que era a caneta de tinta
Pra sempre ser empunhada
Na hora da inspiração
Pra fazer composição
Das personagens criada.
Quem não lembra de Tieta
Badalando o Agreste?
E de Quincas Berro Dágua
Cachaçado como a peste?
Fez a bela Gabriela
Cabocla cravo e canela
Que de bem simples se veste
(...)
No largo do Pelourinho
Num casarão destacado
Se encontra a Fundação
Casa de Jorge Amado
Lá a sua trajetória
Confunde com a própria história.
Merece ser visitado!
TÁ NO FORNO!!!
ITABERABA, um taquinho bom de chão!
Aguardem este novo cordel.